Com boom de clientes de planos de saúde, espera cresce em hospitais

Com dores na coluna, a analista Isabel Cristina Pires, 28, esperou cinco horas para fazer raio-X e tomar medicação no Hospital São Luiz (na zona sul de São Paulo). 


Durante esse tempo, contou 30 pessoas de pé, uma deitada no chão e outras cinco em cadeiras de roda à espera de atendimento. "Para que pagar plano de saúde caro? Para ser tratada em um hospital conceituado como paciente do SUS?", diz. 


Do outro lado da cidade, na zona leste, a aposentada Zenaide Muniz, 78, ficou oito horas aguardando leito de internação. Só foi para o quarto após a filha ameaçar armar um barraco no hospital da operadora GreenLine, que disse que prestou todo o atendimento. 


Cenas assim, comuns em hospitais públicos, têm se tornado cada vez mais frequentes em unidades privadas da capital paulista, que trabalham com taxa de ocupação máxima, de 95%. O ideal seria até 85%, para evitar a falta de leitos para urgências. 


Elas são só um exemplo das dificuldades que usuários de planos têm enfrentado, ao lado da demora na marcação de consultas, exames e cirurgias. No mês passado, a Folha mostrou que há superlotação em maternidades particulares. 


O próprio São Luiz admite que tem recebido uma alta demanda de pacientes. Diz que, por priorizar casos de emergência, é possível que haja demora no atendimento. O hospital afirma que até fez mudanças na forma de atendimento para reduzir a espera. 


AQUECIMENTO 


Em razão do crescimento econômico vivido pelo país, mais pessoas têm contratado planos de saúde. Na capital paulista, o número de conveniados subiu 13% desde 2009. 


A rede hospitalar, no entanto, não cresceu à altura. Pelo contrário: nesse período, o número de leitos de internação e de UTI caiu 8,4%. 


Parte da queda ocorreu pelo fechamento de oito hospitais em 2010 e 2011, com 600 leitos, afirma o sindicato dos hospitais (Sindhosp). 


Um levantamento do professor do Departamento de Medicina Preventiva da USP Mario Scheffer, que coordenou a pesquisa Demografia Médica no Brasil, de 2011, mostra ainda que quem frequenta o SUS na capital tem à disposição mais médicos do que quem tem plano. 


"A situação é bem problemática. Temos pacientes graves esperando atendimento por horas em hospitais privados", diz o médico Florisval Meinão, presidente da Associação Paulista de Medicina. 


Segundo ele, os planos "remuneram mal os hospitais, que, por sua vez, têm dificuldade de expandir a rede e até de se manterem abertos." 


Para Sheffer, a Agência Nacional de Saúde Suplementar é omissa. "Não fiscalizou o dimensionamento inadequado da rede e nem o 'congelamento' do número de médicos." 


A FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), que representa 15 dos maiores grupos de operadoras do país, afirma que suas afiliadas "vêm fazendo contínuo esforço de investimento na ampliação da capacidade de atendimento". 


Procon e hospitais defendem regra de proporcionalidade 


O Procon-SP, o sindicato dos hospitais e advogados especialistas na área são unânimes em dizer que a solução para o problema de superlotação na rede privada seria que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) criasse a regra de proporcionalidade. 


Ou seja: obrigando as operadoras de planos de saúde a aumentarem suas redes credenciadas de acordo com o acréscimo de beneficiários. 


Segundo a avaliação de Mauricio Ceschin, diretor-presidente da ANS, essa não seria a melhor solução, no entanto. 


Isso porque, afirma ele, a operadora poderia informar que tem um número de médicos credenciados em sua rede, mas nem todos atenderem a planos durante todo o tempo. 


Pelo mesmo motivo, não seria eficiente exigir que o número de leitos oferecidos seja proporcional, afirma. "Isso daria uma falsa dimensão da rede." 


PRAZOS 


De acordo com Ceschin, a agência reguladora adotou medidas efetivas com a resolução que determinou o prazo de atendimento de consultas e dos demais procedimentos, como exames. 


Para cumprir os prazos, afirma ele, as operadoras de saúde terão que credenciar mais serviços. 


Desde que a regra entrou em vigor, em dezembro, foram feitas 7.663 reclamações por descumprimento da regra. No início deste mês, 37 operadoras foram proibidas de comercializar 268 planos. 


Operadoras defendem rede e atendimento 


Primeira colocada na lista do Procon-SP, a Amil afirma que tem a maior rede do país, que o levantamento do órgão é sobre o total de reclamações, independente do número de beneficiários, e que cumpre a legislação. 


A Greenline diz que, no último ano, ampliou a rede em cerca de 60%, enquanto a alta nos beneficiários foi de 30%. 


A Intermédica diz que até 2011 teve o menor número de queixas entre as cinco maiores. A Unimed Paulistana diz que atende a todas as reclamações. Já a Golden Cross, afirma que é bem avaliada pela ANS em tempo de atendimento. 


A Bradesco diz que as queixas correspondem a um percentual mínimo em relação ao número de clientes e que cumpre os critérios da ANS. A Prevent Senior afirma que a maioria dos casos é solucionada, e a SulAmérica diz que está abaixo da média de reclamações. Todas as operadoras afirmam ter uma rede adequada e em constante ampliação. Itálica, Universal e Trasmontano não se pronunciaram. 


CLÁUDIA COLLUCCI 
TALITA BEDINELLI 
DE SÃO PAULO




FOLHA DE S. PAULO - COTIDIANO

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