RH aposta em consultorias para gerenciar planos de saúde

Na briga por preços baixos, o RH aposta em consultorias e seguradoras como a Bradesco Saúde investem na transparência de informações
Um dia de frio, um cobertor curto em mãos e a certeza de que alguma parte ficará descoberta e prejudicada. A analogia serve para ilustrar a situação incômoda da Saúde brasileira em que, frequentemente, algum dos elos do setor sai no prejuízo, quando não o paciente, descoberto de assistência pelo curto cobertor econômico. Sem contar os fatores estruturais do sistema, a atual pressão de custos é intensamente abastecida pelas novas tecnologias, técnicas e medicamentos, aumento da sobrevida, das internações, falta de leitos, crescimento de participantes nos planos de saúde etc. Um dos integrantes dessa cadeia, que tem sentido no bolso o cenário descrito, são as empresas contratantes de planos coletivos – categoria esta que representa 77% de todos os planos comercializados no País.

Com uma inflação médica de 16,4%, substancialmente superior ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 6,1%, segundo último levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), observa-se uma tendência de elevação nos reajustes anuais de planos coletivos – estabelecidos de maneira autônoma por cada operadora. Os dados mais recentes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), por exemplo, apontam reajustes acima de 25% em 4,1% dos contratos coletivos, o equivalente a cerca de 46,5 mil contratos.
Dessa forma, o benefício ao funcionário, que é a segunda maior despesa em Recursos Humanos (RH), superada apenas pela folha de pagamento, deixou de ser apenas uma preocupação exclusiva do RH e, cada vez mais, é fator decisório também para o diretor financeiro e, até, para o presidente da companhia. Para o advogado especialista em planos de saúde Sérgio Parra, os profissionais de Recursos Humanos, em geral, não entendem como funciona a sinistralidade e acabam ficando à mercê dos reajustes, sem analisar o que o ocasionou. “A falta de assessoria se agrava em empresas pequenas, onde quem acaba cuidando dessas questões é o contador”, afirma Parra.
Para prover esse suporte às organizações na hora de negociar preço e serviço junto aos planos, assim como ajudar no desenvolvimento de programas de promoção e prevenção, é que nasceram as consultorias especializadas em gerenciamento de planos, nicho de mercado crescente no País e bastante comum nos Estados Unidos.
Otimizando custos
Na busca por melhorar sua negociação, o Grupo Wilson Sons, de logística portuária e marítima, há quatro anos mantém contrato com a multinacional Aon Hewitt Brasil, que administra cerca de 1.250 titulares de planos da companhia brasileira. “Quando estou negociando diretamente com o prestador, levando em conta a quantidade de vidas que tenho, tem um peso. E quando estou com um corretor e sua carteira de vidas, o processo de negociação fica muito mais robusto”, conta o gerente de recompensa e planejamento de Desenvolvimento Humano e Organizacional (DHO) da Wilson Sons, Antonio Linhares. Atualmente a Aon, com sede em Londres, possui uma carteira de mais de 500 clientes corporativos no Brasil, incluindo 1.300 vidas nesta área de benefícios.
O vice-presidente técnico de benefícios globais da Aon Hewitt Brasil, Humberto Torloni, descreve as etapas de trabalho da consultoria, sendo a primeira delas a escolha do plano, que vai além da simples cotação. “Tenho que analisar, por exemplo, a distribuição geográfica da população”, diz o executivo ao explicar a necessidade frequente de se trabalhar com diferentes tipos de planos e operadoras para empresas com unidades espalhadas pelo Brasil. A escolha do benefício passa também pela análise do que está sendo praticado no mercado. “Clientes na área de tecnologia, por exemplo, com mão de obra qualificada, costumam oferecer planos melhores”, exemplifica o executivo.
Depois de fechado o negócio com determinada operadora, inicia-se a gestão desse contrato por meio de acompanhamento mensal dos resultados financeiros e avaliação de indicadores de utilização (índice de consultas, exames, internações, frequência etc.). “Supomos que uma pessoa fez 83 consultas em um ano, neste caso é preciso um trabalho de orientação e, para isso, temos uma área de enfermagem, assistência social e de médicos”, conta Torloni, lembrando que se a empresa tiver um médico do trabalho, é feito um trabalho em conjunto.
Das mais de mil vidas da Wilson Sons gerenciadas pela Aon, cerca de 975 são clientes da Bradesco Saúde* e acarretam um gasto de R$ 1,4 milhão à empresa de logística. Na última negociação com a operadora, o grupo conseguiu economizar 8% sobre a apólice. “A Bradesco apresentou um aumento de 18% e, com o suporte da Aon, fizemos uma proposta de 10% em janeiro deste ano, seguida de avaliação e contenção do sinistro pelos próximos meses. E conseguimos permanecer com o sinistro abaixo da meta, evitando os 8%”, conta Linhares, ressaltando a importância dos relatórios gerados pela Aon que indicam os maiores riscos da apólice. “E com base nisso, eu tenho subsídios para negociar. Eles iniciam as conversas, mas nas reuniões de decisão final, eu é quem participo”, conta.
Visão do plano
O presidente da Bradesco Saúde, Marcio Coriolano, vê a pressão dos custos sobre a relação entre empresa e operadora com normalidade. “Nos habituamos a isso e, por isso, nos especializamos em mostrar para o cliente onde o calo está apertando”, afirma o executivo, enfatizando que atualmente a demanda excede o produto e a qualidade da rede de prestadores. Segundo ele, assim como as consultorias, as operadoras também estão preocupadas em munir as empresas com informações a fim de prover a melhor assistência aos funcionários.
Exemplo disso foi a criação do Sistema de Informações Gerenciais (SIGE) que acompanha as despesas ocorridas, possibilitando a geração de relatórios sob medida para as necessidades de análise do comportamento das despesas médico-hospitalares e a identificação de ajustes no desenho do plano-benefício.
“O sistema é acessado pela internet e são encontradas informações que vão desde quanto gastam os colaboradores por tipo de evento, por prestador, podendo chegar até em informações por cada segurado, no entanto, apenas o médico designado da empresa pode ter acesso a esse tipo de dado. Isso dá a transparência necessária para a empresa questionar a Bradesco Saúde”, enfatiza.
A segunda opinião médica pode ser outra forma para evitar o uso desequilibrado dos convênios médicos. A Bradesco Saúde, por exemplo, em parceria com os Hospitais Albert Einstein (SP) e Mater Dei (MG), fez um projeto desse tipo para proporcionar aos pacientes eventuais alternativas de tratamento de patologias de coluna vertebral que não sejam a intervenção cirúrgica, com ou sem colocação de prótese. Com isso, mais de 67% dos casos indicados para cirurgia de coluna foram desaconselhados pelo projeto.
Outro caminho indicado pelas consultorias e operadoras é a chamada coparticipação, na qual o beneficiário arca com uma parcela das consultas e exames mais comuns. Em relação aos chamados programas de promoção e prevenção – que podem incluir atividades físicas, palestras educacionais, consultas básicas periódicas, levantamento e acompanhamento de crônicos, entre outros -, é consenso entre os entrevistados de que são iniciativas importantes, mas não determinantes para a redução dos gastos com planos.
“Os resultados desses programas são de longuíssimo prazo. Não é com isso que se controla sinistralidade. Hoje se dá pela regulação da utilização, ou seja, controle forte por parte da operadora na hora de autorizar um procedimento médico e na questão do reembolso para segurados. O pente fino está na conta médica”, opina o advogado Parra.

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