| Data:     1/4/2009
 Fonte: O Estado de São Paulo
 Não é     de hoje que empresas de planos de saúde quebram e abandonam seus clientes,     que são catapultados para o primeiro plano que deseja levar a carteira de     usuários. Acompanho situações assim desde que a lei do setor foi criada, há     dez anos.  Mas a     (triste) história dos cerca de 200 mil beneficiários da Avimed já é demais.     São três quebradeiras seguidas e nenhuma perspectiva de atendimento digno!     Imagine: pagar mais para ter assistência sem filas, mas ter de enfrentar     esperas de dois meses para um exame. A sorte dos governos é que os usuários     da Avimed mais prejudicados não fazem muito barulho, são idosos e doentes. 
 A Avimed comprou parte da carteira de clientes da Saúde ABC (que também     quebrou), que por sua vez havia comprado clientes da Interclínicas em 2004,     empresa que tinha Oswaldo      Cruz e outros hospitais de ponta em sua rede, mas foi     mais uma que desapareceu do mercado.
 
 Bem, agora foi a vez da Avimed quebrar. E o pior. A única interessada até     agora em levar a carteira é a Itálica Saúde, empresa que recebeu nota     abaixo da mediana na última avaliação sobre qualidade dos planos da Agência     Nacional de Saúde Suplementar. A agência analisa o negócio há exatamente     uma semana, sem dar sinal de qual será o caminho para os usuários.
 
 Aliás, a nota da avaliação de qualidade não é levada em conta ainda pela     legislação que embasa a transferência de carteiras de clientes planos.     Portanto, sim, uma empresa com notas ruins – o que quer dizer que ela     provavelmente já tem problemas financeiros e de atendimento – pode comprar     clientes de outra que também era ruim e quebrou.
 
 E ainda: nos último dias até deputados têm intercedido em favor da Itálica,     muito estranho. Faz lembrar o negócio com a Saúde ABC, que também já não ia     bem das pernas e mesmo assim levou milhares de clientes da Interclínicas.
 Outra     esquisitice: antes mesmo de o negócio com a Itálica ser aprovado pelo     governo, no entanto, a empresa já está atendendo junto com a Avimed, o que     é irregular, mas não há notícia ainda de punição por parte da agência. 
 Um dia desses, uma pessoa me perguntou: “por que esses clientes da     Avimed não vão embora de vez? É melhor que busquem o SUS !”
 
 Bem, não é fácil assim. Quem está doente ainda tem carência para o     atendimento se for para um novo plano. Outra coisa, os planos individuais     são cada vez menos comuns no mercado, pois as operadoras preferem ofertar     planos empresariais, cujos reajustes não são controlados pelo governo.
 Por     fim, os clientes temem, e com razão, deixar os planos e ter de enfrentar as     também nebulosas filas do SUS, com meses de espera para consultas com     especialistas e exames. 
 Para entender melhor o absurdo da situação, veja o relato feito ao Núcleo     de Saúde por João Alberto Ianez, de 69 anos e sua mulher, de 68 anos, ex     associados da Interclínicas que tiveram câncer e sofrem com seus plano     todos esses anos.
 
 “Até hoje não tivemos o cumprimento do nosso plano, que era da     Interclínicas e tinha hospitais como o Oswaldo Cruz. Isto acabou com a     venda para a Saúde ABC, mas continuamos pagando. Só que agora é o fim da     picada. Estão nos jogando em um plano ainda mais abaixo do que os outros.     Já vi a rede da nova empresa, a Itálica, e é uma simplicidade! Pagamos R$     2.370 por mês, eu e a minha esposa!"
 "No     início da Avimed, até achamos legal, eles chegavam a reembolsar por alguns     atendimentos. Mas depois começaram a cortar. Fui lá no atendimento da ANS     em novembro e só fiquei mais nervoso. Disseram que não tinham nada a fazer.     Eu também já havia reclamado em 2007, quando era saúde ABC. Nisso tudo, o     que mais me surpreende é a postura da agência. Em primeiro lugar, eles     nunca deveriam ter deixado a Interclínicas ser vendida à Saúde ABC. A minha     mulher teve câncer de mama e eu, câncer de próstata. Tenho de fazer exames     de acompanhamento, simples, de sangue, e radiografia, mas me mandaram     atravessar a cidade porque só um lugar faz. Ia gastar mais com o     deslocamento,então resolvi pagar particular. Também já troquei umas dez     vezes de urologista, porque cada hora um é descredenciado."  "Esses     dias, levei 1h30 para falar no atendimento. Agora, em que eles já estão     trabalhando com a Itálica, fui tentar marcar um ultrassom de abdômen e só     tinha para 19 de maio! Já a colonoscopia e endoscopia, só para 27 de abril!     Ontem fui a mais uma consulta com urologista, estava marcada para 8h10 e     até as 10h30 não tinha sido atendido. É uma situação muito complicada,     principalmente para idosos. Tentei entrar em um novo plano, por uma empresa     que eu tenho, mas não me aceitaram. Não tem para onde ir, não tem opção.     Estou pagando uma exorbitância e não tenho um plano. Onde vou me apoiar, o     que posso fazer?”. 
 Infelizmente ninguém tem uma resposta para João e sua mulher que não seja     brigar na Justiça pelo seus direitos.
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